Penduro ou não a minha água-tinta
na parede? A gravura, ainda sem moldura, me interroga, embora não se interesse
muito pelo próprio destino: se exposta ou oculta. Fotografia com traços de
pintura, ela parece ter alcançado o equilíbrio entre o incisivo e o fluido.
A água-tinta retrata uma rua de
Paraty no momento em que todos os turistas já retornaram a seus hotéis. Na
noite escura, a construção sem nome se oferece a meus olhos: segredos por trás
de entradas sem portas, semi-iluminados por lamparinas em metal desenhado. Luz
ora seca, ora difusa: os traços se afirmam e se diluem. Preciso ter cuidado
para não tropeçar nas pedras: sob a penumbra, parecem guardar minúsculas
estrelas.
Sentindo a gravura, sorrio. Deixo
as praias, cachoeiras, enseadas, morros – tudo isso – para as imagens de
outros. Moro na Paraty atemporal do claro e da sombra, dos mistérios gravados
no inconsciente das palavras.
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