sábado, 2 de dezembro de 2017

Maestria

Um poema autoral que flerta com o erotismo da etimologia.

Maestria



Minhas pernas sobre teu rosto,
tuas mãos em meus quadris,
minhas unhas em tua pele;


Minha penugem com teus pêlos,
tua saliva com meus sumos,
meus lábios com teus lábios;


Meu peso contra tua mandíbula,
em teu nariz meus cheiros;
Minha voz sobre tua língua
dócil e instruída,


até que tu paras —
mordiscas —
e teu sorriso invisível
espera o inevitável.


Comando-te de novo;
tu, com o desvelo dos devotos
e a paixão dos famintos,
voltas a me servir


e a me governar.


(Isabela Escher)


Nota da autora:


Maestria —
o saber e a prática profundos do(a) mestre(a), daquele que possui um saber maior.
A palavra pertence à família do latim “magister” (mestre) e “dominatus” (domínio).


O poema pode ser reproduzido desde que os créditos sejam atribuídos à autora, Isabela Escher, e que a reprodução seja na íntegra, sem modificações e não seja utilizada para fins comerciais.


Caso deseje conversar com a escritora, envie e-mail para: escher.isabela@gmail.com

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Entardecer

Hoje não tem poema.
Apenas o sangue que
sufoca,
apenas as pílulas de fuga
entre os minutos
onde me perco.

Meu corpo é a cápsula de um degredo
secreto ao qual fui condenada.
Porém eu me rasgo, derramo e mergulho
em busca das costas desejadas.

Sou a escuridão em que deliro,
mas também sou os faróis que me incendeiam.
Sou as rochas que me estilhaçam;
ao mesmo tempo sou as águas implacáveis
que, pela erosão ou pela fúria,
as penetram e as partem ao meio.
Sou a coragem e sou o medo.

Caso me vires serena, não te enganes.
Caso eu pareça rasa, não te arrisques.
Eu sou os ventos sem destino
das tempestades que ilumino. 

Isabela Escher

  • O poema pode ser reproduzido desde que os créditos sejam atribuídos a autora, Isabela Escher, e que a reprodução seja na íntegra, sem modificações e não seja utilizada para fins comerciais.
  • Caso deseje conversar com a escritora, envie e-mail para: escher.isabela@gmail.com 



domingo, 26 de fevereiro de 2017

Vidência


Pitonisa alucinada;
meus olhos ardem
diante dos fumos do passado.
Entre o fogo de luz intensa
e as brumas do olvido,
sou mais cega que vidente.


Pitonisa paciente;
a cada momento, mais se desvela _
lenta e curiosamente.
Os fumos vão se afastando
diante dos leques sagrados;
reencontro versos perdidos
com novos significados.

Pitonisa dentre os juncos;
sob o Sol, firme,
sob a tormenta, curvada.
Parte de mim enraizada em eterna sombra,
parte de mim erguida e iluminada.

Filha de águas doces e salgadas,
sou confidente das ventanias;
dourada sob o manto dos dias,
e aprendiz das lamas úmidas.

Isabela Escher.
- O poema pode ser reproduzido desde que os créditos sejam atribuídos à autora, Isabela Escher, e que a reprodução seja na íntegra, sem modificações e que não seja utilizada para fins comerciais.