(Confira o capítulo I clicando
aqui e leia o capítulo II
aqui).
Capítulo
III
O
cão se aproximava em passos implacáveis. Não possuía olhos; todavia, ele me
avaliava, sopesando que tipo de ameaça eu representava àquela casa.
Recuei.
Primeiro, um passo; depois, outro. Não conseguia desviar o meu olhar daquela
criatura, ainda que eu estivesse amedrontada. Que animal impossível era aquele?
O
cão somente parou de caminhar quando eu já havia recuado vários metros. A rua
acidentada e escura me impedia de andar mais rápido, ainda mais de costas.
Assim, ao fim de alguns minutos, nós ficamos imóveis, medindo um ao outro.
Foi
quando ele uivou; um uivo agudo, uma mistura entre um aviso e um lamento, alto
e penetrante. Nenhum outro animal poderia uivar daquele modo que mais se
assemelhava a um grito.
Toda a cautela e todo o fascínio me
abandonaram. Virei e corri em direção ao cais, apertando a câmera com força em
minhas mãos, me concentrando completamente no barulho das ondas da baía adiante
e olhando apenas para as pedras irregulares sob os meus pés.
Apenas
após a rua ter terminado e eu haver chegado ao gramado que se estendia até o início
do porto, percebi uma dor ardente em um dos meus calcanhares. Mesmo assim, não
diminuí o ritmo até conseguir chegar a uma fileira de carros estacionados.
Não
havia ninguém ali. A escuridão absoluta não me permitia sequer enxergar a
enseada; somente escutá-la.
Quando
virei a minha câmera para o fim da Santa Rita, o flash iluminou o vazio. Oprimida por aquela ausência de
movimentação, liguei para a minha esposa e pedi que viesse me resgatar.
Após
algumas horas de sono agitado, acordei decidida a retornar ao sobrado para
descobrir o que estava acontecendo. Já não possuía mais dúvidas de que todo o
episódio se encontrava permeado pelo sobrenatural. Porém, ainda precisava saber
os motivos: por que aquela tocha havia surgido e sumido das minhas mãos? Por
que eu havia escutado aqueles sussurros? Por que, quando tinha me aproximado
para fotografar melhor a casa, uma força havia me afastado de lá? E,
finalmente, que aparição era aquele cão imenso sem olhos?
Sentia
que o casarão desejava algo de mim. Não podia deixar de pensar que a tocha
encontrada perto do sobrado tinha um propósito, bem como que os murmúrios
queriam me dizer alguma coisa.
Portanto,
a despeito dos conselhos da minha esposa – “você já não tem uma história boa o
suficiente para contar?” –, resolvi voltar ao mesmo lugar.
Eram
seis da tarde quando eu, com a minha câmera, cheguei ao casarão. A rua se
encontrava cheia de turistas alheios. Naquele momento, não esperava obter uma
resposta; isso apenas viria (se viesse) depois que todos houvessem partido.
Após
armar o tripé e posicionar a câmera em frente ao sobrado, fiquei perplexa. As
paredes, antes sujas e machucadas, estavam limpas e lisas. As pedras
desgastadas entre as fachadas agora se encontravam como novas. O mais marcante,
contudo, eram as portas e janelas: a madeira, anteriormente velha, brilhava, e
as tábuas exteriores que as vedavam haviam desaparecido.
Eu
precisava de uma bebida.
-- O quarto capítulo do
conto será publicado na próxima semana.
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mim, Isabela Escher Rebelo (Isabela Escher).